sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A morte na era digital

Tem uma coisa muito estranha acontecendo. E que poucos comentam. A estranheza que é quando alguém conectado, conhecido ou não, morre.

Antes, quando não havia redes sociais, você lamentava uma morte, via fotos impressas e batia aquela melancolia. Mas você não tinha contato com a pessoa há algum tempo e isso era mais fácil. Quando não se percebe uma manifestação real dessa pessoa, a aceitação da morte é mais fácil justamente por que a distância nessas horas ajuda um pouquinho, né.

Mas e agora, que embora não se tenha mais contato físico eventualmente com uma pessoa, você está vendo uma manifestação real, presente, da vida desta pessoa todos os dias na sua timeline?

As foto estão lá também, não mais impressas, mas disponíveis para serem acessadas a qualquer momento e à distância. A pessoa também está disponível, online, para estabelecer um diálogo com você a qualquer momento. E, do nada, a pessoa morre.

E aí você fica sabendo que morreu HOJE, mas ainda vê uma mensagem, uma manifestação real desta pessoa, de ONTEM, ali vivinha ainda na sua timeline, nossa, isso é muito louco!

Hoje, morreu um homem que eu nem o conheci. É marido da uma colega minha, a quem sempre admirei muito como profissional. Hoje me deparei com uma mensagem dela muito sofrida (e muito linda) sobre a morte dele. E, embora eu não o conhecesse, tudo isso me causou uma ENORME estranheza quando vi mensagens dele RECENTISSIMAS comentando a foto da filha dos dois.

Fico imaginando, se um dia um amigo meu morrer e eu entrar na página dele para dar bom dia sem ainda saber que ele se foi, pois havia uma mensagem dele, uma manifestação dele há algumas horas atrás, ali, REGISTRADAS para sempre. MUITO LOUCO.

Um comentário:

  1. Conforme as transformações culturais vão acontecendo, as relações vão mudando e os sentimentos tb. De alguma forma aquele sofrimento é compartilhado, assim como um nascimento tb pode ser.
    Devemos tomar cuidado com o que deixamos chegar até nós com esse mundo sem fronteiras... e acima de tudo, devemos tomar cuidado no que fazer com o que chega até nós.

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